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Versus

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O jornal Versus começou como uma publicação essencialmente cultural, com a proposta, contudo, de entender a cultura como uma “ação política”. Foi lançado em São Paulo, inicialmente como bimestral. Seu diretor responsável era o jornalista gaúcho Marcos Faerman. Entre os participantes: Moacir Amâncio, Elifas Andreatto, Carlos Rangel, João Antônio, Luís Egypto, Cláudio Bojunga, Joca Pereira, Modesto Carone.

A trajetória do jornal aponta para os problemas e dificuldades da delicada relação entre cultura e esquerda. Entre o primeiro número, lançado em outubro de 1975, e o último, editado em outubro de 1979, a história do jornal traduziu a oposição entre, de um lado, intelectuais e jornalistas com projeto de uma publicação cultural, pluralista e inovadora em termos estéticos, e de outro, militantes organizados que viam o jornal como instrumento de luta política. Este confronto terminou por sepultar a publicação.

O jornal trazia grandes artigos e reportagens dedicados ao debate das novas teorias discutidas na Europa, naquela época: em especial as teses de filósofos como Michel Foucault, Gilles Deleuze e Félix Guattari. Valorizava a estética como manifestação política e a arte como um agente revolucionário. Nesse sentido, Versus procurava inovar, também, em sua apresentação visual. A ilustração, em suas páginas, não pretendia ser apenas o reforço de uma matéria. Ela seria um signo em si própria; algumas vezes, seria a própria matéria.

A América Latina — vivendo, em sua maioria, naqueles anos, sob ditaduras militares — era um dos temas mais importantes do jornal. Ela era vista como uma entidade unificada política e culturalmente. O jornal buscava contribuir para a criação de um sentimento de “latinidade” que marcou certos setores intelectuais e artísticos nos anos 1970. Além disso, foi responsável pela divulgação de inúmeros intelectuais latino-americanos no Brasil, publicando textos não apenas de nomes conhecidos como Julio Cortázar, Gabriel García Márquez, Jorge Luis Borges e Octavio Paz, mas, também, de autores de público mais restrito como Miguel Ángel Asturias, Carlos Fuentes e Ernesto Sábato.

O jornal fugia de uma compreensão da política como essencialmente partidária. Valorizava a política nos temas ligados ao comportamento, ao cotidiano, às relações pessoais, à estética e à sensibilidade. Artigos e reportagens denunciavam a repressão exercida sobres as mulheres, os loucos, os presos.

Nos seus dois primeiros anos de existência, Versus era um jornal vanguardista, entrosado com as novas correntes internacionais, voltado para o debate intelectual e estético e, essencialmente, pluralista. Buscando inovar tanto na forma como no conteúdo — afirmando, inclusive que, em muitos casos, a forma era o próprio conteúdo.

Esta foi a marca do jornal até o final do ano de 1977 — quando houve a entrada, na administração e na redação do jornal, de um contingente significativo de militantes da Convergência Socialista (tendência legal da organização clandestina de inspiração trotskista — Liga Operária). Este fato mudou inteiramente o tom do jornal. Versus passou a ser um jornal político, praticamente o órgão divulgador das posições da Convergência.

Antes desta transformação mais radical, ocorrida em 1977, já havia, no jornal, a presença de militantes políticos e de jornalistas de esquerda, muitos deles com alguma influência trotskista. Tratava-se, contudo, de uma influência teórica e não de uma vinculação orgânica. Versus representava, em seu projeto inicial, um ponto de vista de esquerda de crítica ao stalinismo e ao modelo soviético. Mas a sua transformação em órgão da Convergência Socialista o inseriu no quadro de um discurso mais doutrinário e dogmático. O jornal modificou sua aparência e seu conteúdo e os jornalistas ligados ao projeto inicial terminaram por se retirar. Como um jornal nitidamente político, Versus continuou saindo até meados de 1979, quando deixou de circular.
(Fonte: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/imprensa-alternativa)

Movimento

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Jornal originário de uma dissidência do Opinião. Um grupo de jornalistas, liderado por Raimundo Pereira, decidiu criar um outro jornal que superasse os problemas mais candentes da publicação anterior. Mais especificamente, o objetivo era ultrapassar, na direção de uma postura política mais definida, a tônica excessivamente intelectual daquele periódico. Movimento nasceu em julho de 1975, em São Paulo, com a proposta explícita de ser um jornal de frente política.

O editor e idealizador do jornal foi Raimundo Rodrigues Pereira. O conselho de redação era composto de Aguinaldo Silva, Elifas Andreatto, Jean-Claude Bernardet, Maurício Azedo, Teodomiro Braga, entre outros. O diretor responsável era Antônio Carlos Ferreira e os editores especiais, além de Raimundo Pereira, eram Bernardo Kucinski e Marcos Gomes.

A partir de seu nascimento, efetivamente, o jornal funcionou como um espaço de reaglutinação de militantes e de grupos políticos. Segundo Bernardo Kucinski, ativistas que saíam da cadeia, antigos militantes que tinham se afastado da luta armada e remanescentes de antigos grupos que se haviam desmantelado se aproximaram do jornal movidos pela possibilidade de uma atividade política legal, não clandestina. Em várias regiões do país organizaram-se sucursais do jornal. Sendo, na verdade, o jornal uma “frente” política, em cada sucursal predominava uma posição diferente, em função da predominância deste ou daquele grupo político.

A linha política e teórica mais ampla do jornal era dada, contudo, pelo PCdoB (Partido Comunista do Brasil). Embora sem vínculos orgânicos, o editor Raimundo Pereira alinhava-se às teses gerais deste partido e sofria grande influência intelectual de um antigo dirigente da organização maoísta APML — o jornalista Duarte Pacheco, na época vivendo na clandestinidade e mais próximo das teses do PCdoB.

Em pouco tempo o conselho editorial do jornal passou a expressar um conflito político interno que se estendia, também, às sucursais regionais: de um lado, os militantes do PCdoB e, de outro, os demais grupos políticos, os jornalistas independentes e os intelectuais de formação acadêmica. As teses do PCdoB referentes à caracterização da sociedade brasileira e, sobretudo, à definição do caráter da revolução no Brasil eram objeto de polêmica entre os grupos políticos da época e dividiam os militantes. Questões como “burguesia nacional”, “feudalismo” e “aliança com empresários” demarcavam campos de profundas divergências dentro do jornal.

Mas não apenas as questões internas dividiam os participantes de Movimento. O choque internacional entre as duas grandes potências comunistas da época — China e URSS — também interferia na crise política interna do jornal, na medida em que o PCdoB aderia, sem reservas, à linha chinesa.

A agudização da crise política dentro do jornal terminou por provocar uma grande crise em abril de 1977, quando jornalistas independentes e militantes de vários grupos políticos se retiraram. Movimento passou então a ser, efetivamente, um jornal que representava os pontos de vista do PCdoB. Mas transformar-se no jornal de um partido não resolveu o problema das divergências internas. Movimento passou a expressar a luta interna do PCdoB — acirrada, na época, pelo processo de avaliação da guerrilha do Araguaia. A total subordinação de Movimento às questões políticas internas do PCdoB terminou por inviabilizar o jornal. Em 1981 uma convenção nacional de trabalhadores do jornal aprovou a proposta de seu editor, Raimundo Pereira, de fechamento da publicação.
(Fonte: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/imprensa-alternativa)

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